Estima-se que a Guarda Nacional Bolivariana, nome dado às Forças Armadas venezuelanas, conte hoje com 123 mil integrantes. Analisando apenas a proporção de militares e civis do país, dá para dizer sem medo que a Venezuela é bastante militarizada. O Brasil possui um contingente de 334 mil soldados na ativa e uma população de 207 milhões. A Venezuela, porém, tem pouco mais de 32 milhões de habitantes – uma população bem menor que a do Estado de São Paulo, que tem 44 milhões.
E ainda tem um detalhe: esse número de 123 mil integrantes não representa o real contingente militar venezuelano. Isso porque ele não inclui na conta a chamada Milícia Nacional Bolivariana, grupo paramilitar formado por voluntários pró-Nicolás Maduro, atual presidente.
Ninguém até hoje ousou cravar qual o número total de milicianos – ainda que Maduro tenha falado em 1,6 milhão de pessoas no final de 2018 –, ou o quanto estão bem-armados e treinados. O que se sabe é que o grupo têm feito barulho nos últimos dias, sobretudo nas regiões de fronteira que a Venezuela mantém com a Colômbia e o Brasil.
As tensões na divisa com o Brasil se intensificaram a partir da última sexta-feira (22) e se estenderam pelo fim de semana. Militares e milícias apoiadores de Maduro impediram a entrada de ajuda humanitária, incendiando e apedrejando caminhões com alimentos e remédios vindos do Brasil. O argumento é que as tentativas de ajuda mascaram uma intervenção militar patrocinada pelos Estados Unidos – e, portanto, devem ser rechaçadas a todo custo.
Segundo Emilio González, prefeito da cidade fronteiriça de Gran Sabana, no entanto, o buraco é ainda mais fundo. Os confrontos que estouraram a partir da última sexta-feira próximo à fronteira teriam resultado em 25 mortos e 84 feridos.
O Ministério da Defesa do Brasil, via Twitter, disse que interviu na linha de fronteira para que novos incidentes não voltem a se repetir na região.
Mas e se o conflito esquentasse de fato?
A decisão do governo brasileiro em fazer frente à situação nas áreas de fronteira acontece após a Venezuela ter, supostamente, tomado o primeiro passo em direção a um confronto armado. Segundo informações do site Defesanet, especializado em assuntos militares, a Venezuela teria instalado mísseis S-300, um sistema de defesa área, próximo à fronteira com o Brasil.
A informação não foi confirmada pelo governo brasileiro, mas deu novo fôlego à discussão: e se o Brasil entrasse em guerra com a Venezuela? Estaríamos preparados para isso, ou há chances de que os vizinhos surpreendam?
Considerando a atual situação econômica e política da Venezuela, é pouco provável que haja qualquer conflito. Afinal, manter uma guerra é caro e, para que a Guarda Nacional Bolivariana fizesse barulho para além das fronteiras do norte, precisaria de uma grande operação logística.
No entanto, olhando apenas para os armamentos de ambos os países, é possível vislumbrar como seria esse conflito hipotético. Dá para cravar por exemplo, que caso tentasse avançar por terra, a Venezuela encontraria uma boa resistência. E isso não tem a ver apenas com as dimensões continentais do Brasil, mas sim, com seu número de veículos terrestres.
Levaríamos alguns dias até reunir e posicionar em áreas de fronteira todo o nosso potencial terrestre, é verdade. Mas, nesse quesito, estamos bem à frente dos venezuelanos: segundo estimativas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), o Brasil possui, por exemplo, 393 tanques – contra 173 da Venezuela – e 1.627 blindados (transportes armados). Nossos vizinhos têm 427. Quantidade, porém, não é sinônimo de qualidade: entram nessa conta os modelos T-92, importados da Rússia, e considerados os melhores tanques do continente.
Pelo mar, a vantagem numérica brasileira volta a aparecer. Enquanto as forças armadas nacionais têm 55 navios militares e cinco submarinos, a Venezuela conta com 39 navios e dois submarinos.