Cortar
corunilhas ou roubar ovelhas?
por Letícia de
Faria Ferreira[i]
Quem de nós não se
indigna ao assistir na TV às notícias de corrupção? Sabemos que há uma
Constituição no país que estabelece leis e normas que devem ser cumpridas por
todos os cidadãos. No entanto, mesmo sabendo que existem essas leis e normas
quase todos nós conhecemos em nossos cotidianos alguém que as descumpre, ou
melhor, que escolhe qual das leis vai obedecer e qual irá descumprir. Exemplo
muito comum disso é acusar-se um político que desvia dinheiro público ou quem
comete algum tipo de roubo de bandido, enquanto outras infrações às leis, por
interesses particulares, acreditamos que não são crimes. Emblemático disso é o
descumprimento das leis ambientais e de trânsito.
Enquanto pensarmos que
podemos escolher qual leis vamos cumprir e qual não, torna-se contraditório
acusar os outros de corruptos e bandidos e exigir a punição adequada a esses
delitos. As leis, sem exceção, precisam ser cumpridas por todos, sem exceção.
Não posso escolher que seja cumprida à lei que condena o abigeato enquanto tomo
uma cerveja antes de dirigir, caço sem a devida licença ou corto uma árvore
nativa para fazer lenha. Por que comumente chamamos de bandido um ladrãozinho
de ovelha e não fizemos o mesmo com quem corta corunilhas para fazer lenha?
Ambos são criminosos por que descumprem a Constituição!
O problema da nossa
sociedade em suas diferentes instâncias – de políticos a trabalhadores – é que
sempre achamos que a lei é para os outros cumprirem. De nada vale repudiar a
corrupção que passa todas as noites na TV enquanto aquecemos nossos pés com um
toco de lenha nativa ardendo na lareira, pois i-moralmente estamos reproduzindo
as mesmas atitudes, apenas em escala diferente, ao fazer de conta que as leis
não são para mim.
[i]
Professora da Universidade Federal do Pampa; Doutora em Desenvolvimento Rural,
Agricultura e Sociedade.
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