quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O cavalo Branco do Coronel Farrapo Rafael Verdum, o túmulo do coronel está em Herval.

Em Herval, o cavalo branco do coronel farrapo!!!

Até sábado, Zero Hora conta histórias de lugares míticos da Guerra dos Farrapos, palcos da revolução que abrigam lendas e narrativas capazes de atiçar a curiosidade e a imaginação dos gaúchos.

por Nilson Mariano.


  


 Numa curva em declive da estrada de chão, no município do Herval, na fronteira com o Uruguai, repousam os restos mortais do coronel Rafael Verdum, que morreu a serviço dos farroupilhas durante enfrentamento com uma força imperial.

Seria mais um túmulo perdido no pampa, caso não carregasse uma assombração: dizem os mais sensíveis a visões que o oficial aparece montado num cavalo branco para viajantes que se atrasam ao voltar para casa.
Leia todas as reportagens da série Imaginário Farroupilha.

Numa curva em declive da estrada de chão, no município do Herval, na fronteira com o Uruguai, repousam os restos mortais do coronel Rafael Verdum, que morreu a serviço dos farroupilhas durante enfrentamento com uma força imperial.
Seria mais um túmulo perdido no pampa, caso não carregasse uma assombração: dizem os mais sensíveis a visões que o oficial aparece montado num cavalo branco para viajantes que se atrasam ao voltar para casa.
A lenda nasceu de um fato real. Em 22 de setembro de 1835, dois dias depois de rebentar a Revolução Farroupilha, o coronel Verdum, imigrado do Uruguai, atacou a estância do comandante militar do Herval, João da Silva Tavares, defensor intransigente do Império do Brasil. Veterano das guerras contra os vizinhos castelhanos, Silva Tavares desbaratou os invasores. Verdum foi morto a golpes de lança e espada.
Silva Tavares era compadre de Bento Gonçalves, ambos tiveram o batismo de fogo no front contra os espanhóis, mas alertou desde o início que era contra a revolução. Bento insistiu, em nome dos velhos tempos, mas o compadre legalista não cedeu. Mantiveram a amizade, mas em lados opostos.
Herval não capitulou aos farrapos, e o uruguaio Verdum foi sepultado numa canhada, a parte baixa entre duas coxilhas. A lenda do assombro divide os moradores. Dono da Estância Alvorada, onde fica o sepulcro, Wolney Maciel Ribeiro, o Fornera, 84 anos, jamais viu a tal montaria branca. E se diverte com a situação.
– Se encontrasse, dava uma paradinha para conversar com o Verdum, saber o que ele teria para me dizer – comenta Wolney.
A mulher dele, Maria, 76 anos, revela que aproveitou a lenda, quando os três filhos eram jovens, para que não voltassem das festas na cidade em alta madrugada.
– Dizia para que não passassem da meia-noite, por causa do cavalo branco – lembra ela.
Regam o túmulo para pedir chuva

Mas por que Verdum assustaria as pessoas? Uma das explicações pode estar na forma como foi morto. Ele investiu contra Silva Tavares ao lado do também uruguaio Pancho Ortiz, com um punhado de orientais e rio-grandenses que simpatizavam com o ideal farroupilha. Verdum também era amigo de Bento Gonçalves.

No confronto, Verdum sofreu um lançaço no baixo-ventre. No livro História do Herval, de Manoel da Costa Medeiros, consta que teria sobrevivido, mas foi alcançado dois dias depois pelo alferes João Mendes de Santa Bárbara, que o assassinou com uma espada, introduzindo a lâmina no mesmo lugar onde ocorrera o ferimento anterior.
A suposta vilania é que não deixaria a alma de Verdum aquietar. Capataz na fazenda de Wolney e Maria, Antônio Helton Silva, o Cuca, 47 anos, diz que temia o vulto do cavalo branco quando menino. Ao passar pela Canhada do Verdum, no caminho da escola rural, arregalava os olhos e se apressava.
– Se tiver um ponto branco na paisagem, é o Verdum – conta Helton.
Não há temor ao coronel uruguaio. Ao contrário, moradores recorrem à memória dele para pedir chuva durante as estiagens de verão. Helton diz que alguns chegaram a regar o túmulo dele, trazendo água de balde, para reforçar a súplica.
Embora seja descendente de Silva Tavares, dona Maria cuida da sepultura de Verdum, que está sob a sombra protetora de uma coronilha e de uma aroeira – árvores de tronco resistente. Ela limpa, deposita flores e esparrou pedrinhas do Arroio Mingote sobre o jazigo.
– Foi um fato histórico, já faz tantos anos – diz Maria, com respeitosa compaixão.

Silva Tavares honrou o império
O coronel João da Silva Tavares quase foi assassinado, pelo menos duas vezes, por defender o Império do Brasil e não se juntar aos conspiradores farroupilhas.
Nem mesmo o amigo e compadre, Bento Gonçalves, pôde convencê-lo a aderir à rebelião.

O pesquisador Getúlio Dorneles Fernandes da Silva, 71 anos, do Herval, apurou que não faltaram tentativas para eliminar Silva Tavares. Um tal de João Thomaz chegou a se esconder nos jardins da casa, onde o coronel legalista costumava tirar a sesta depois do almoço. Na primeira vez, foi surpreendido por um familiar e fugiu correndo entre as lavouras. Na segunda, foi interceptado e abatido por um dos peões da estância.

O atentado mais sério ocorreu em 19 de setembro de 1835, véspera de eclodir a revolução. Getúlio Dorneles informa que um coronel uruguaio, de nome Santanna, chamou Silva Tavares para conferenciar na beira de um capão. Alertado de que o visitante ocultava um punhal sob a manga, com o qual pretendia assassiná-lo, Silva Tavares deu-lhe voz de prisão no momento do encontro.
Ambos estavam com pequena escolta. Todos brigaram com espadas e adagas. Depois de morto, Santanna foi revistado por Silva Tavares, que achou a lâmina no local indicado.
Nas pesquisas que fez, Getúlio Dorneles percebeu que Silva Tavares estava solidário com as queixas dos líderes farrapos, mas discordava do plano de separar o Rio Grande do Sul do Brasil. Desconfiava que os uruguaios, tão ardorosos em torno dos sediciosos farrapos, cobiçavam o território gaúcho.
– Ele entendia a mágoa dos conterrâneos, mas nada aceitou que pudesse ameaçar a unidade da pátria – avalia Getúlio Dorneles.
Nas refregas contra os uruguaios que o atacaram no Herval, Silva Tavares sofreu duas perdas. Morreram o sobrinho, tenente Sylvestre Nunes, e o cunhado, major Jerônimo Nunes.
O imperial só não conseguiu evitar o que mais temia, a emancipação do Rio Grande do Sul. Em 10 de setembro de 1836, nos campos do Seival (próximos ao município de Bagé), bateu-se contra o farrapo Antônio de Souza Netto. O confronto ainda estava indeciso quando aconteceu um imprevisto.
Foi algo inusitado, mas fatal. Silva Tavares perdeu o controle da montaria quando se rompeu a articulação de couro – a cabeçada do arreio – que prende o freio à boca do animal. Como o cavalo saiu em disparada, Tavares mal se equilibrando nos estribos, as tropas legalistas se desorientaram. A vitória foi tão esmagadora que Netto, no dia seguinte, proclamou a independência da República Rio-Grandense.
Fotos: Carlos Macedo (Agencia RBS)
Postagem: Paulinho da Mídia. o Javali do Herval.
Fonte: Facebook, Secretaria de Cultura, Herval.


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