quarta-feira, 19 de junho de 2019

A decepção do criador que investiu na criação de Javalis


Por determinação do Ibama, últimos 100 javalis de Ravanello devem ser vendidos ou abatidos até outubro 

Se há produtores que irresponsavelmente soltaram suas criações na natureza quando se deram conta de que o investimento na comercialização do javali não valia a pena, há aqueles que acreditaram no negócio e resistiram quando o Ibama determinou que o porco asselvajado não podia mais ser criado em cativeiro. No Rio Grande do Sul, a Secretaria de Agricultura reconhece como ativos em seu cadastro apenas dois empreendimentos do tipo, um em Casca e outro em Antônio Prado.


Gregori Ravanello é o proprietário do criatório de Antônio Prado, que já teve um plantel de 600 javalis e que hoje está reduzido a 100 animais. Instalado numa propriedade de 100 hectares, das quais oito foram destinados à criação, o produtor diz que esgotou todas as formas jurídicas e administrativas para manter a granja. “Investimos mais de R$ 2 milhões em estruturas como cercamento eletrônico e colocação de microchips em cada animal. Mantivemos o tratamento veterinário em dia. Montamos uma rede de comercialização para a carcaça e o animal vivo. Tudo foi posto por água abaixo”, lamenta Ravanello.

Autuado no ano passado, o produtor recebeu do Ibama, por força de uma medida de defesa administrativa, prazo de 18 meses para encerrar a criação, que termina em outubro. Até lá, Ravanello espera conseguir comercializar os animais que tem para o mercado paulista, com o preço, segundo ele, em torno de R$ 25 o quilo da carcaça. “Entendo que se diga que o javali alcançou o caráter de praga. Mas não entendo por que a criação monitorada, para a qual existe mercado comprador, não possa seguir. Estou jogando a toalha, mas não me conformo com o prejuízo de quase R$ 1 milhão que terei em razão da mudança de posicionamento dos órgãos públicos”, diz. Se não conseguir vender, o produtor terá de abater o rebanho remanescente.

Carne sob suspeita

Embora a criação esteja proibida, não existe restrição ao consumo da carne do javali em todo o território nacional, desde que seja comprada das granjas que ainda funcionam autorizadas por liminares ou importada de outros países. Estudiosos do tema e caçadores admitem, entretanto, que as pessoas comem o animal abatido nos campos e florestas. “Parte do nós caçamos, levamos para casa e consumimos”, diz Josmar Padilha, caçador em atuação nos Campos de Cima de Serra.

O agrônomo da Equipe Javali no Pampa, Marcelo Wallau, reitera que “não é recomendado o consumo”, pois o animal transmite doenças a outros animais e aos humanos, já que hospeda patógenos desconhecidos de outras espécies. “Somente animais de locais onde haja rigorosa inspeção sanitária e cozidos a mais de 75° C podem ser consumidos com segurança”, aconselha Wallau. Veja abaixo alguma das moléstias que o consumo de carne de javali pode trazer:

Tuberculose —  Infecta animais domésticos e silvestres pela ingestão de substratos contaminados ou contato direto entre uma espécie e outra. Em seres humanos, pode ser transmitida pelo ar ou pelo consumo de produtos contaminados.

Toxoplasmose — Causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que se reproduz no intestino dos felinos, mas que pode ser encontrado na musculatura de outras espécies, entre as quais os suínos. Pode infectar o homem.

Esparganose — Infecção parasitária, afeta animais e homens e é contraída pelo javali ao ingerir ração e resíduos de carne decomposta.

Hepatite E — Doença viral adquirida pela ingestão de água ou alimentos contaminados, que pode chegar ao homem pelo consumo da carne.

Leptospirose — De alta incidência entre os javalis, é transmitida por bactéria presente na água e em solo com urina de animais contaminados. No homem, pode ser adquirida pelo contato com secreções que penetram na pele mesmo intacta.

Outras doenças — Erisipela Suína, Brucelose Suína, Peste Suína Clássica, Triquinelose, Gripe Suína, Encefalite Japonesa e Raiva.
Fonte: www.correiodopovo.com.br

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