Texto: Arnóbio Zanottas Pereira
Navidinha
Para o Valdir Veiga Pereira
Meu pai, nascido na região do Rincão
Feliz, foi vizinho e amigo do Navidinha e dele contava coisas que, aos meus ouvidos
de menino, tinham o mesmo sabor das histórias contadas pelo Blau Nunes, das
atribuídas ao Pedro Malasartes ou ao Bocage. Causos, ditos, passagens da vida
deste cidadão, negligentemente, tive a desdita de esquecer.
Quando
professor em Herval, por diversas vezes, viajei de ônibus com o Navidinha e a
Dona Chininha, sua mulher. Conheci, ainda, seus filhos Nair, Natália, Emília (a
do Girdo, se não me falha a memória)
e o Aldrovando, meu amigo, morador na Airosa Galvão, que vinha mensalmente ao
Arroio Grande recolher, com religiosidade, a sua aposentadoria.
A
Emília e o Gildo, ou Astrogildo, mais precisamente, moravam na propriedade
rural do Seu Donga, no Capão das Pombas. Já o Aldrovando, morou anos com o Omar
Bretanha cuidando os campos deste. Além das célebres rosquinhas com glacê,
lembradas numa excelente crônica do Jarbas Acevedo, tempos atrás, para o jornal
O Herval, e mais duas ou três histórias que, contadas por meu velho pai
consegui guardar, tudo o mais perdi.
Muitas
passagens sobre a vida do Navidinha estão soltas, pois, na oralidade dos seus
conhecidos e vizinhos, prontas e à espera de compiladores. Espero até, que esta
crônica sirva de mote para que venham à tona mais histórias... Personalidade
ímpar, ele foi esquilador, montava carpas em ocasiões festivas, vendia produtos
da sua chácara e tinha lá a profissão de produtor rural.
Numa
ocasião, embarcou ele com a mulher trazendo cada um uma lata com ovos para vender
na cidade. O ônibus era da Rainha, o motorista o Darinho Carriconde e o
cobrador o Dalmo. Atrapalhando a entrada dos passageiros já estava o tarro do
leite que o Cilzo Freitas embarcava diariamente para o Arroio Grande. Pois, ao
lado, quis o Navidinha colocar as duas latas de ovos, quando já não havia mais
espaço. Ante a negativa do Darinho, indo ele sentar-se com a mulher, ambos
levando no colo as latas, queixou-se: - Pô! Seu Darinho, o leite do Cilzo o
senhor leva na frente e os meus ovos o senhor bota atrás!
Era
assim! Quando ensinou os filhos a esquilar, dizia ser a Natália a de mais
talento. Tudo por que ela pegava uma tesoura do Chico das Puas e se atirava de
talho aberto quando pegava um carneiro. Quando o acompanhava o filho Aldrovando
em alguma comparsa, ele orientava o aprendiz.
Num
dia de tosquia em que o Aldrovando beliscou demais uma ovelha, o Navidinha
professorou: - Não, assim não! Capiça mais Drovano, capiça...
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