PERFIL DOS BRASILEIROS
6,9 milhões moram sozinhos
25.07.2011
Segundo o IBGE, o número de residências com apenas uma pessoa triplicou nas últimas duas décadas no País
Brasília A família tradicional, com pai, mãe e três filhos, está cada vez mais rara no Brasil. Pela primeira vez na história, o número de pessoas morando sozinhas ultrapassou o das famílias com cinco integrantes. Hoje, os domicílios com apenas um morador já são 12,2% do total, ante 10,7% das residências com cinco pessoas. Os brasileiros solitários já somam 6,9 milhões - quase três vezes mais que os 2,4 milhões de 1991.
Os dados constam de um recorte inédito feito pelo Estado nos dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa revela que o País está seguindo uma tendência internacional: há cada vez menos gente dividindo o mesmo teto. Em 1960, a média de moradores por domicílio era de 5,3 pessoas. Cinquenta anos depois, caiu para 3,3. Ainda assim, é bem maior do que a proporção em países europeus e nos Estados Unidos: por volta de 2,5.
Existem, porém, duas grandes diferenças no aumento dos "solitários" brasileiros registrado na última década. A primeira é a intensidade - de 2000 para cá, o ritmo de crescimento dos domicílios com apenas um morador foi cerca de 15% maior do que na década anterior. A outra é a participação das cidades médias: morar sozinho era um comportamento mais restrito às grandes cidades. Mas, nos últimos dez anos, o avanço de casas e apartamentos com apenas um morador foi quase 40% maior em cidades de 100 mil a 500 mil habitantes que nos municípios de grande porte.
Razões
As principais explicações para esse fenômeno são o crescimento no número de idosos e o aumento na renda média do brasileiro. Porto Alegre, líder no ranking dos solitários entre as capitais, com 21,6%, é o melhor exemplo da primeira razão. A cidade gaúcha é também a capital que conta com mais moradores com mais de 60 anos (15%). Como regra geral, quanto mais velha a população, maior o número de pessoas morando sozinhas após criar os filhos, se divorciar ou ficar viúva.
Florianópolis, segundo lugar na lista das capitais, é um exemplo de como a renda influencia na quantidade de pessoas morando sob o mesmo teto. Como a cidade é a capital com maior renda per capita por domicílio, há mais pessoas com condições de bancar todos os custos de manter uma casa ou um apartamentos apenas com seu salário.
Já São Paulo ocupa um lugar intermediário: é a 8ª capital com maior renda per capita, 5ª colocada no ranking da terceira idade e 7ª das que, proporcionalmente, mais têm domicílios com apenas um habitante. No total dos municípios brasileiros, a maior média é de Herval (RS), no interior gaúcho, onde 26,6% dos moradores vivem sozinhos. Na outra ponta está Ipixuna, no Amazonas - lá, a alta proporção de indígenas faz menos de 1% dos lares ter só um morador.
São Paulo
Em São Paulo, 503.971 pessoas vivem sozinhas - em 14,1% dos lares. Embora seja praticamente a soma de duas capitais, Palmas (TO) e Boa Vista (RR), a média ainda é baixa se comparada com grandes cidades europeias ou americanas - Nova York, por exemplo, tem 50% dos domicílios com apenas um morador.
Mesmo assim, o aumento de pessoas morando sozinhas na capital já causa preocupação entre psicólogos. "Em um mundo pós-moderno, de cultura massificada, a solidão é um sentimento que está aumentando", diz Sueli Damergian, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Ela explica que a solidão não está necessariamente ligada ao fato de não se viver com alguém. Mas a dificuldade dos jovens de manter diálogos enriquecedores e trocar experiências verdadeiras torna mais difícil a vida de quem mora só. "A solidão é um vazio de bons objetos internos. Quem não internalizou figuras amorosas, como pai, mãe ou amigos, tem muito mais dificuldade para ficar sozinho sem sentir angústia ou solidão", avalia.
Norte
Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, tem a maior proporção de moradores por domicílio do Brasil. Lá, a média é de 6,9 pessoas por residência, ou seja, mais que o dobro da média nacional, de 3,3. O motivo é cultural e está relacionado à alta proporção de índios - 60% dos seus 18,1 mil habitantes se declararam indígenas no Censo 2010.
O fenômeno se repete em vários municípios da região. Das 50 cidades que lideram o ranking de habitantes no mesmo teto, 49 estão na Região Norte, onde proporcionalmente há mais índios vivendo em ocas ou malocas, que, às vezes, são comunais. Por isso, a média de habitantes por domicílio sobe bastante. Em Santa Isabel do Rio Negro, por exemplo, 20% das moradias são ocas - a maioria com mais de oito moradores.
Na outra ponta do ranking estão pequenas cidades do interior de Goiás, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. A líder é Aloândia (GO), com apenas 2,5 moradores por domicílio. A explicação nesse caso é a idade: 19% dos moradores de lá têm mais de 60 anos, proporção que é quase o dobro da média brasileira.
Brasília A família tradicional, com pai, mãe e três filhos, está cada vez mais rara no Brasil. Pela primeira vez na história, o número de pessoas morando sozinhas ultrapassou o das famílias com cinco integrantes. Hoje, os domicílios com apenas um morador já são 12,2% do total, ante 10,7% das residências com cinco pessoas. Os brasileiros solitários já somam 6,9 milhões - quase três vezes mais que os 2,4 milhões de 1991.
Os dados constam de um recorte inédito feito pelo Estado nos dados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa revela que o País está seguindo uma tendência internacional: há cada vez menos gente dividindo o mesmo teto. Em 1960, a média de moradores por domicílio era de 5,3 pessoas. Cinquenta anos depois, caiu para 3,3. Ainda assim, é bem maior do que a proporção em países europeus e nos Estados Unidos: por volta de 2,5.
Existem, porém, duas grandes diferenças no aumento dos "solitários" brasileiros registrado na última década. A primeira é a intensidade - de 2000 para cá, o ritmo de crescimento dos domicílios com apenas um morador foi cerca de 15% maior do que na década anterior. A outra é a participação das cidades médias: morar sozinho era um comportamento mais restrito às grandes cidades. Mas, nos últimos dez anos, o avanço de casas e apartamentos com apenas um morador foi quase 40% maior em cidades de 100 mil a 500 mil habitantes que nos municípios de grande porte.
Razões
As principais explicações para esse fenômeno são o crescimento no número de idosos e o aumento na renda média do brasileiro. Porto Alegre, líder no ranking dos solitários entre as capitais, com 21,6%, é o melhor exemplo da primeira razão. A cidade gaúcha é também a capital que conta com mais moradores com mais de 60 anos (15%). Como regra geral, quanto mais velha a população, maior o número de pessoas morando sozinhas após criar os filhos, se divorciar ou ficar viúva.
Florianópolis, segundo lugar na lista das capitais, é um exemplo de como a renda influencia na quantidade de pessoas morando sob o mesmo teto. Como a cidade é a capital com maior renda per capita por domicílio, há mais pessoas com condições de bancar todos os custos de manter uma casa ou um apartamentos apenas com seu salário.
Já São Paulo ocupa um lugar intermediário: é a 8ª capital com maior renda per capita, 5ª colocada no ranking da terceira idade e 7ª das que, proporcionalmente, mais têm domicílios com apenas um habitante. No total dos municípios brasileiros, a maior média é de Herval (RS), no interior gaúcho, onde 26,6% dos moradores vivem sozinhos. Na outra ponta está Ipixuna, no Amazonas - lá, a alta proporção de indígenas faz menos de 1% dos lares ter só um morador.
São Paulo
Em São Paulo, 503.971 pessoas vivem sozinhas - em 14,1% dos lares. Embora seja praticamente a soma de duas capitais, Palmas (TO) e Boa Vista (RR), a média ainda é baixa se comparada com grandes cidades europeias ou americanas - Nova York, por exemplo, tem 50% dos domicílios com apenas um morador.
Mesmo assim, o aumento de pessoas morando sozinhas na capital já causa preocupação entre psicólogos. "Em um mundo pós-moderno, de cultura massificada, a solidão é um sentimento que está aumentando", diz Sueli Damergian, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Ela explica que a solidão não está necessariamente ligada ao fato de não se viver com alguém. Mas a dificuldade dos jovens de manter diálogos enriquecedores e trocar experiências verdadeiras torna mais difícil a vida de quem mora só. "A solidão é um vazio de bons objetos internos. Quem não internalizou figuras amorosas, como pai, mãe ou amigos, tem muito mais dificuldade para ficar sozinho sem sentir angústia ou solidão", avalia.
Norte
Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, tem a maior proporção de moradores por domicílio do Brasil. Lá, a média é de 6,9 pessoas por residência, ou seja, mais que o dobro da média nacional, de 3,3. O motivo é cultural e está relacionado à alta proporção de índios - 60% dos seus 18,1 mil habitantes se declararam indígenas no Censo 2010.
O fenômeno se repete em vários municípios da região. Das 50 cidades que lideram o ranking de habitantes no mesmo teto, 49 estão na Região Norte, onde proporcionalmente há mais índios vivendo em ocas ou malocas, que, às vezes, são comunais. Por isso, a média de habitantes por domicílio sobe bastante. Em Santa Isabel do Rio Negro, por exemplo, 20% das moradias são ocas - a maioria com mais de oito moradores.
Na outra ponta do ranking estão pequenas cidades do interior de Goiás, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo. A líder é Aloândia (GO), com apenas 2,5 moradores por domicílio. A explicação nesse caso é a idade: 19% dos moradores de lá têm mais de 60 anos, proporção que é quase o dobro da média brasileira.
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