quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Conto Sobre o Navidinha

Publicação: Fabio Duarte

Texto: Arnóbio Zanottas Pereira 

Navidinha

                                                                                                                                            Para o Valdir Veiga Pereira

                                                                                              Meu pai, nascido na região do Rincão Feliz, foi vizinho e amigo do Navidinha e dele contava coisas que, aos meus ouvidos de menino, tinham o mesmo sabor das histórias contadas pelo Blau Nunes, das atribuídas ao Pedro Malasartes ou ao Bocage. Causos, ditos, passagens da vida deste cidadão, negligentemente, tive a desdita de esquecer.
                                                                                             Quando professor em Herval, por diversas vezes, viajei de ônibus com o Navidinha e a Dona Chininha, sua mulher. Conheci, ainda, seus filhos Nair, Natália, Emília (a do Girdo, se não me falha a memória) e o Aldrovando, meu amigo, morador na Airosa Galvão, que vinha mensalmente ao Arroio Grande recolher, com religiosidade, a sua aposentadoria.
                                                                                              A Emília e o Gildo, ou Astrogildo, mais precisamente, moravam na propriedade rural do Seu Donga, no Capão das Pombas. Já o Aldrovando, morou anos com o Omar Bretanha cuidando os campos deste.   Além das célebres rosquinhas com glacê, lembradas numa excelente crônica do Jarbas Acevedo, tempos atrás, para o jornal O Herval, e mais duas ou três histórias que, contadas por meu velho pai consegui guardar, tudo o mais perdi.
                                                                                              Muitas passagens sobre a vida do Navidinha estão soltas, pois, na oralidade dos seus conhecidos e vizinhos, prontas e à espera de compiladores. Espero até, que esta crônica sirva de mote para que venham à tona mais histórias... Personalidade ímpar, ele foi esquilador, montava carpas em ocasiões festivas, vendia produtos da sua chácara e tinha lá a profissão de produtor rural.
                                                                                              Numa ocasião, embarcou ele com a mulher trazendo cada um uma lata com ovos para vender na cidade. O ônibus era da Rainha, o motorista o Darinho Carriconde e o cobrador o Dalmo. Atrapalhando a entrada dos passageiros já estava o tarro do leite que o Cilzo Freitas embarcava diariamente para o Arroio Grande. Pois, ao lado, quis o Navidinha colocar as duas latas de ovos, quando já não havia mais espaço. Ante a negativa do Darinho, indo ele sentar-se com a mulher, ambos levando no colo as latas, queixou-se: - Pô! Seu Darinho, o leite do Cilzo o senhor leva na frente e os meus ovos o senhor bota atrás!
                                                                                              Era assim! Quando ensinou os filhos a esquilar, dizia ser a Natália a de mais talento. Tudo por que ela pegava uma tesoura do Chico das Puas e se atirava de talho aberto quando pegava um carneiro. Quando o acompanhava o filho Aldrovando em alguma comparsa, ele orientava o aprendiz.
                                                                                              Num dia de tosquia em que o Aldrovando beliscou demais uma ovelha, o Navidinha professorou: - Não, assim não! Capiça mais Drovano, capiça...

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