quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Arroio Grande - Defensores buscam a preservação da memória de Arroio Grande

Matéria Publicada no Diário Popular

Grupo formado a partir de mobilização pela rede social Facebook conseguiu despertar na comunidade da terra de Mauá a importância de resgatar e manter o patrimônio histórico do município.

De idades e ofícios diferentes, eles são movidos pela importância de resgatar a memória (Foto: Moizés Vasconcellos - DP)
De idades e ofícios diferentes, eles são movidos pela importância de resgatar a memória (Foto: Moizés Vasconcellos - DP)
Casa da família Teixeira de Almeida Maciel está entre as que mantêm as características originais (Foto: Moizés Vasconcellos - DP)
Casa da família Teixeira de Almeida Maciel está entre as que mantêm as características originais (Foto: Moizés Vasconcellos - DP)
Fabio Duarte
A terra de Irineu Evangelista de Sousa, o "Barão de Mauá" assistia passivamente à ruína de seu patrimônio histórico, erguido ao longo de mais de 200 anos de história. No entanto, há quatro meses, um grupo cidadãos de Arroio Grande, movido apenas pelo sentimento de preservação do patrimônio material e imaterial da cidade, iniciou uma discussão na rede social Facebook, que obteve a adesão de 1.168 membros, pelo menos 700 residentes no município, o que demonstra o despertar da população local para esta necessidade iminente de resgate da memória, diz a bacharel em Letras, Carla Silveira Machado.
Ela foi uma das criadoras do grupo, juntamente com o advogado e historiador Sérgio Silveira Canhada, o fazendeiro José Paulo Ramos da Silveira, a professora de Artes Eliana Carvalho Lúcio e o acadêmico de Geografia da UFPel, Antônio Augusto Franco, entre outros arroio-grandenses e cuja imagem na cidade não há mais como dissociar dos defensores do Patrimônio Histórico e Cultural de Arroio Grande. A interatividade entre eles, não se resume apenas à rede social e, sempre que possível, se reúnem, para idealizar ações, especialmente neste ano, em que são comemorados os 200 anos de um dos filhos mais ilustres de Arroio Grande, o Barão de Mauá, nascido em 28 de dezembro de 1813.
A grande preocupação, no momento, é com o prédio onde funcionou a primeira Câmara de Vereadores, na instalação do município em 22 de dezembro de 1873. A Casa possuía funções executivas e, por isso, foi também o primeiro prédio da administração municipal. O imóvel, localizado na esquina das ruas Herculano de Freitas e Doutor Monteiro, bem no centro da cidade, está em via de desabar.
A construção do século 19, foi ainda local de nascimento de Herculano de Freitas, outra figura ilustre do município e que se destacou no cenário nacional como jurista, deputado, senador, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), diretor da Faculdade de Direito de São Paulo, entre outros cargos. Trata-se de uma construção simples e pequena, com aproximadamente 114 metros, mas com grande significado histórico, dizem os defensores, e, por isso, solicitaram ao prefeito a desapropriação do prédio, que é objeto de disputa judicial entre os herdeiros. Fechado desde 2003, ao longo dos anos teve uso sempre como prédio público e serviu de sede para um cartório e a promotoria pública, entre outros. “Fomos muito bem acolhidos pela administração municipal, que deve investigar a possibilidade de desapropriar o prédio, para que alguma intervenção possa ser feita.”
Inventário
Os defensores salientam que não há um inventário oficial sobre a quantidade de prédios históricos existentes na cidade e que guardam as características arquitetônicas trazidas pelos povoadores. Muitos foram demolidos e outros, como o Clube Instrução e Recreio, hoje Clube do Comércio, com data anterior a 1912 quando começou a funcionar como entidade social, foram totalmente descaracterizados. Este prédio encontra-se interditado desde o mês de fevereiro, pelo Corpo de Bombeiros, e é alvo de esforços entre a diretoria da casa e a prefeitura para sua reforma e reabertura.
Mas há também aqueles que são cuidadosamente preservados por seus proprietários, especialmente aqueles que servem de moradia para as famílias tradicionais de Arroio Grande e que permanecem na posse dos seus descendentes desde a construção, como o das famílias Teixeira de Almeida e Maciel e Silveira Machado. Alguns sofreram intervenções necessárias ao longo do tempo, outros se resumem a ruínas, como a casa do padre Neves, outra figura popular e de grande prestígio na cidade.
Do primeiro engenho da cidade restou apenas a chaminé. A antiga Pharmácia Maciel, prédio datado de 1881, guarda uma arquitetura única e preservada. A Chácara dos Leões, que pertenceu ao coronel Francisco de Paula Alves, vulgo Chico Alves, primeiro presidente do Partido Republicano e fundador da Sociedade Abolicionista, desperta o imaginário sobre como era a vida na Arroio Grande de 1899.
Iniciativas da administração
De acordo com o secretário de Turismo de Arroio Grande Sidney Bretanha, o município ainda não possui uma lei municipal de preservação do patrimônio histórico do município e, como a grande maioria dos prédios antigos, está nas mãos de particulares, não há como impedir que eles façam modificações na fachada. “Existe uma vontade grande do prefeito mudar esta realidade, mas isto não depende só dele, é preciso fomentar o debate, o que pode partir dos vereadores”, diz. Segundo ele, existe a sugestão de seguir o modelo de Jaguarão, que é referência para todo o país.
Segundo Bretanha, a administração tem se reunido com os defensores e a preocupação momentânea diz respeito ao prédio da antiga Câmara, que possui grande valor histórico para o município. “A prioridade agora é resolver a situação deste imóvel, que se encontra em situação de risco e há uma predisposição do Poder Público de intervir e a desapropriação poderia ser uma alternativa.” Segundo ele, há uma mobilização da comunidade que está reunindo assinaturas em um abaixo-assinado, o que deve respaldar a decisão da prefeitura.
Guardiã das memórias
A um quilômetro do centro de Arroio Grande, logo que passa a ponte de ferro, uma das mais antigas casas da cidade que pertenceu a Manuel de Souza Gusmão, foi transformada em Memorial pela atual proprietária, a professora Flávia Conceição Correa. O memorial conhecido como Casa da Chácara, foi inaugurado no dia 27 de novembro de 2011 e abriga a memória das famílias de Arroio Grande, segundo conta a professora, que reuniu um número grande de peças, entre fotos, documentos, peças de vestuário, brinquedos, utensílios domésticos, móveis, distribuídas impecavelmente entre os cômodos da casa.
A construção em estilo colonial português, com fortes traços da arquitetura açoriana do final do Século 18 e início do século 19, está cuidadosamente preservada e preservadas estão também, as relíquias que integraram o dia a dia de arroio-grandenses que construíram a cidade ao longo dos anos. Parte do acervo pertenceu à própria família da professora e outra parte foram de doações arrecadadas nas casas e estâncias. “Estou começando a fazer um catálogo, em que haverá a descrição de cada uma das peças”, conta Flávia.
Por se tratar de museu particular, a casa não fica aberta permanentemente. Aos interessados em visitar, ela abre o local três vezes por semana, sempre à tarde, principalmente para estudantes das escolas locais. Os contatos devem ser feitos pelo telefone 8125-3465.
Arroio Grande
ArroioGrandeArroio Grande está localizado na Zona Sul do Estado, a 343 quilômetros de Porto Alegre e 94 de Pelotas. Possui população de 18.470 habitantes conforme o Censo do IBGE 2010, distribuídos em 2.518 quilômetros de área. O povoamento teve início em 1803, por Manuel Jerônimo de Sousa, avô do Barão de Mauá. Em 1812, Manuel de Sousa Gusmão, filho de Manuel Jerônimo, que ali havia se instalado com a esposa, dona Maria Pereira das Neves, doou um terreno para ser edificada uma igreja.
Diz a tradição que esta doação foi feita em troca de um milagre de Nossa Senhora das Graças. A capela de Nossa Senhora das Graças de Arroio Grande foi construída em 14 de dezembro de 1815 e confirmada por dom João VI a 15 de abril de 1821. Por lei nº 54, de 26 de maio de 1846, foi elevada à categoria de Freguesia e Curato de Nossa Senhora da Graça de Arroio Grande, constituindo a 39ª Freguesia do Estado. A Lei nº 596, de 2 de Janeiro de 1867, dividiu o município de Jaguarão em cinco distritos, dos quais o quarto era constituído pela freguesia de Arroio Grande. Por Lei Provincial nº 843 de 24 de março de 1873, foi elevada à categoria de Vila com a mesma invocação e nome. Por lei nº 590, de 5 de novembro de 1890, foi elevada à categoria de cidade com a denominação de federação, sendo depois, por lei nº 522, de 6 de julho de 1891, restabelecida a antiga denominação de Arroio Grande.
Fonte http://www.diariopopular.com.br/facebook.php?n_sistema=3056&id_noticia=NzE5MDQ%3D

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